
Como criar empatia?
Esta é daquelas que exigem imenso de nós, quando estamos quase a fritar pipoca! Mas vamos lá ver como podemos simplificar a coisa, sim?
Primeiro que tudo: a empatia requer que percebas os sentimentos alheios. Para que o teu filho perceba que tu o percebes, tens de lho dizer. Confuso de ler mas óbvio, certo? Como a maioria das coisas que aqui te falo. A vida é muito mais simples do que pode parecer. Quando o teu filho faz uma asneira importante ou quando começa a birrar (fazer “birra”), tens várias opções à tua disposição, algumas com melhor resultado do que outras.
Por exemplo: o teu filho quer ir passear como costumam fazer mas tens de cuidar da cria mais nova e ele começa a bater com o boneco na parede e a riscá-la com a sua tinta. Algumas opções óbvias seriam: “castigar”, “ralhar”… mas será que seria útil? Independentemente das nossas considerações sobre os castigos e o ralhar, será que é útil?
A criança está a sentir-se trocada, afastada… vamos mesmo juntar mais um stress ou uma punição ao momento? Claro que não! Então o que podes fazer?
“Eu já percebi que queres muito ir passear. Eu também quero muito ir passear contigo! Podes ajudar-me para me despachar mais rapidamente?”
Claro que nem sempre é fácil!
Estou a lembrar-me de uma vez em que eu estava sozinha com a Constança (3 anos), a Francisca (18 meses) e o Tomás (20 dias, entre internamentos!) e eu estava completamente esgotada, ansiosa e impaciente. As minhas filhas estavam habituadas a passear todos os dias um bocadinho. O importante para elas, não era tanto o tempo do passeio, mas o ritual e eu não estava com capacidade… mesmo assim, quis manter a rotina. Era importante para elas.
Avisei-as de que ia preparar o lanche, trocar o mano e depois iríamos dar a nossa voltinha.
Enquanto eu estava a preparar o lanche e a tentar arranjar alguma energia para o resto do dia, o Tomás faz o clássico cocó até ao pescoço (será que existe algum recém nascido que não o tenha feito?). Pousei a comida e fui trocá-lo. “A mamã vai só trocar o mano e a seguir vamos lanchar, combinado?” e pronto… assim começou o “incêndio” do dia.
A Francisca começou a chorar e a “birrar”, a Constança atirou a fruta para o chão, a Francisca pisou-a (e eu no quarto, com o Tomás completamente despido e a lavá-lo….) passei-me! Simplesmente passei-me! Fiz uma birra maior do que a delas. Gritei, esperneei, chorei… Claro que “falhei” mas confesso que me perdoo completamente porque… sou humana e não consegui melhor no momento. Não lhes bati, claro. Mas gritei e esperneei e chorei com todo o cansaço que tinha em mim.
Nem sempre conseguimos manter a calma e recordar a “receita feliz” e temos de aceitar esse nosso limite. Aliás, se aceitarmos os nossos limites com naturalidade, menos vezes vamos ultrapassá-los de forma acesa! Tudo vai ser mais fluido em nós.
Quero com isto dizer-te que: podes quebrar rotinas e podes gritar e podes falhar… podes é também adquirir estratégias que te ajudem a reduzir essas “falhas” e uma das estratégias é combinar a aceitação com a empatia.
Se aceitares os teus limites e disseres algo como “eu quero muito estar contigo e tenho muitas saudades tuas. Como não consigo passear na rua, queres sentar-te ao meu colo enquanto te faço festinhas?” Provavelmente, a tua cria enérgica vai mandar-te passear… tu e as festinhas! Ela quer é sair, explodir, saltar, rir e brincar.. “Eu sei que querias muito ir passear lá fora e eu também queria muito conseguir… como quero muito estar contigo, podemos fazer antes_____”
Claro que é um processo e um abraço ajuda MUITO a obter melhores resultados. Mas, acima de tudo, responde às seguintes questões:
- a cria está a “birrar” por perder um momento nosso ou uma regalia habitual?
- se é um momento nosso, posso substituir por algo que lhe dê o mesmo envolvimento?
- se é uma regalia habitual, posso substituir por algo especial?
- se a cria pequena não existisse, eu poderia fazer o que a cria grande quer?
Se ponderarmos bem, provavelmente, a cria pequena até tem alguma razão, certo?
Outra coisa importante é recordarmos que é normal chorar, é normal ficar triste de vez em quando… e são ótimas oportunidades de aprendizagem e para criar ligação.
No fundo, tudo o que te digo tem por base alguns princípios:
- ama-te incondicionalmente;
- aceita os teus limites de forma absoluta;
- desafia os teus limites apenas numa perspectiva de crescimento pessoal e nunca numa perspectiva de indemnização aos outros;
- ama o teu filho incondicionalmente;
- lembra-te que o teu filho não tem as mesmas competências que tu;
- explica o que se passa;
- ouve o que te diz;
- não julgues os seus sentimentos;
- ajuda-o a perceber bem o seu lugar e o seu valor:
- renova a ligação em cada momento.